O DIA DO MEIO AMBIENTE




Roberto Mauro Gurgel Rocha 
Membro do Conselho Estadual de Educação 

O dia 5 de junho é internacionalmente reconhecido como a data em que todos devem comemorar o meio ambiente. E momento de comemorar a vida, a existência de cada um, a beleza da natureza, a lindeza do universo, a graça de Deus. 

Alguns pessimistas, dirão que poucos se tem a comemorar em função das agressões a que a natureza vem sofrendo, lembrando questões referentes às devastações, a poluição das águas, o efeito estufa, a questão climática... Tem razão seus alertas que devem ser considerados e neste ano em defesa das águas, tem-se muito a refletir em relação aos atos e ações, de cada um mas, deve-se livrar do pessimismo e converter a prática em atividades concretas e não perder a coragem de lutar. 

Os otimistas também merecem ser considerados e muito deles estão animados pelos resultados de suas ações, que, em alguns casos, de caráter pontual, seguem em frente e dão exemplos de persistência e concretude. 

Certamente tem-se que reconhecer que tanto uns como outros, procuram respostas realisticamente em seus conceitos e práticas. Todavia, precisa somar tudo isso em um posicionamento em que se reconheça a necessidade de defender a vida na terra, seguindo um preceito de que muito falava Paulo Freire, que destacava a necessidade de denunciar e anunciar... A denúncia nos mostra a importância e o anúncio a forma como devem as pessoas se comportar em relação ao fato analisado...Tem-se que profeticamente, defender o meio ambiente e os seus seres. E nesse sentido, muito se deve ao Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si sobre o cuidado da Casa Comum, quando denúncia a forma como se trata a terra. 

“Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores autorizados a saqueá-la. A violência que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doenças que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso entre os pobres, os mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que está “gemendo” como que em dores do parto.” 

Certamente o desafio colocado por Francisco, pode parecer desanimador, mas de fato é profundamente animador e isso ele demonstra quando destaca: “o urgente, desafio de proteger nossa casa comum, inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”. O alerta do Papa que acompanha seu desafio, certamente leva a refletir que se está em uma profunda crise civilizacional. Já não se aguenta mais ver a cara de um mundo onde a economia predomina sobre o social, o lucro sobre a força de trabalho, e vendo que, mesmo poluindo, retirando matas tem-se que absurdamente continuar em frete, em nome do progresso econômico e de um capitalismo devastador e insustentável em que reina o Deus da moeda. 

O mundo novo deve ser realmente o mundo onde reina a justiça, a paz, a solidariedade, a fraternidade, o respeito e o CUIDADO. Cuidado que tão bem já alertava Leonardo Boff em seu célebre livro “Saber Cuidar”. Como ele destacava um “cuidado que serve de crítica á nossa civilização agonizante e também princípio inspirador de um novo paradigma de convivialidade”. (BOFF, 1999, p. 11) Segundo ele: 

Sonhamos com uma sociedade mundializada, na grande casa comum, a terra, onde os valores estruturantes se constituirão ao redor do CUIDADO com as pessoas, sobretudo com as diferentes culturas realmente, com os penalizados pela natureza ou pela história, cuidado com os espoliados ou excluídos, as crianças, os velhos, os moribundos, o cuidado com as plantas, os animais, as paisagens queridas e especialmente cuidado com a nossa grandiosa mãe terra. Sonhamos com o cuidado assumido com o ethos fundamental de humano e como compaixão imprescindível para com todos os seres da criação. “ (BOFF idem) 

O que colocam o Papa Francisco e Leonardo Boff representa uma bússola de sentido de uma sociedade sustentável, de um mundo sustentável. E em ambos aparece como uma palavrinha chave o CUIDADO. 

Quem sabe comemorar o Dia do Meio Ambiente não deve ser transformado no dia do Cuidado? Cuidado com a mãe terra e com os seus seres? 

E aí pode-se procurar ver como o Maranhão se comporta em relação à questão do cuidado com o meio ambiente e seus seres. Certamente não se pode deixar de protestar ao ver que: 

“nosso território já foi selva amazônica em 40% de seu espaço, e hoje vê destruídos 20% dessa área, segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Florestas (IBF). Só no Maranhão, 80% da mata desapareceu, como mostram fotos e dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)”. (Diálogo – n° 81 - janeiro (março de 2016). 

Certamente, não se está parado e organicamente ou não tão organizados lutando contra os desacertos dos grandes projetos e programas que destruíram as matas, que em nome do comércio internacional acabaram com os cultivos alimentares. Contra a expulsão de populações de suas áreas de origem, contra a o maltrato das populações tradicionais...Ninguém pode deixar de lembrar os nomes de Nascimento de Moraes, Josemar, Irmã Dorothy, Irmã Barbara, quando se lembra pioneiros, dentre tantos outros. 

Também certamente a mãe natureza em seus aniversários fica feliz de ver os presentes de seus amados filhos, para lembrar somente alguns. Moisés em seu sítio Panakuí, Flávia Mochel em suas andanças em defesa dos manguezais, profª Teresinha com suas plantas medicinais. O juiz Douglas Martins e suas iniciativas em defesa do meio ambiente...E muitos outros heróis identificados ou anônimos, que mesmo lutando na contra mão, nunca perderam a garra e a vontade de lutar. 

E as conquistas vieram não somente em seus resultados práticos mas também em conquistas Legislativas, programas governamentais e conquistas de novos aliados. Temos que destacar a ação de grupos como os defensores do Itapiracó, os amigos de Pindoba, e outros grupos de defesa da natureza, que se manifestam no whatsapp, no facebook.... 

A nível internacional não se pode deixar de reconhecer o papel da Organização das Nações Unidas e seus organismos próprios, pela forma como vem agindo desde que nos anos 80 com a “Comissão Mundial sobre Meio Ambiente”. 

A nível estadual tem-se de destacar o trabalho da Comissão Interinstitucional de Educação – CIEA e seu esforço no sentido de existência de um Plano Estadual de Educação Ambiental. 

O plano teve sua instituição aprovada pela Lei n° 10.796 de 1° de março de 2018. A outra conquista recente, foi a realização de Conferências Infanto – juvenis de Meio Ambiente, que teve conferências escolares em 532 escolas de municípios maranhenses e a Conferência Estadual realizada entre 16 e 18 de maio em São Luís, onde foram selecionados os delegados que em São Paulo apresentaram seus trabalhos na Conferência Nacional. Tem-se assim novos apoios à luta e deseja-se que os jovens que participarem das Conferências Escolares continuem com seus projetos através das Com Vidas. Também no momento existe uma equipe do Conselho Estadual de Educação que elabora as Diretrizes Estaduais de Educação Ambiental, de forma democrática e participativa. 

Como pode-se ver, não se está parado e cada um em seu espaço de vida e de trabalho, vem lutando pela defesa do Meio ambiente de distintas formas. 

Alguns podem achar que o esforço é pequeno. Mas, só quem está na luta sabe da dificuldade enfrentada. Certamente tem-se muito a fazer e muito a aprender. Contudo, tem-se a certeza que a mãe natureza é feliz em ver este esforço, e, por menor que seja tem muito valor para ela...Precisa-se somar mais esforços. A união faz a força e quanto mais unidos mais vitoriosos. 

Para concluir, não se pode deixar de reafirmar uma posição que atribui em seu livro “Os outros segredos do Maranhão”, este grande ambientalista Moses Matias, ao autor deste artigo, quando destacou na apresentação do mesmo “O professor Roberto Mauro Gurgel, um educador que prega a pedagogia da esperança em muitas frentes de batalha...” Mesmo que o tempo tenha passado este continua pregando esperanças. Vamos a Luta. 

Bibliografia consultada 

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética da Compaixão - Compaixão pela Terra – Petrópolis. Vozes, 1999. 

FRANCISCO, Papa. Laudato si sobre o cuidado da Casa Comum. São Paulo: Paulinas. 

Dialogo – Ana XXI – n° 81, jan/março 2018 – Manto Real. 

MATIAS, Moisés – Os outros Segredos do Maranhão – São Luís: Estação Gráfica, 2002